Você sabia que a dor pode deixar de ser apenas um sintoma e se tornar uma doença?
De maneira geral, todo médico trata a dor. A maioria dos médicos trata a dor comum, aquelas mais comuns que levam o paciente até o consultório. O ortopedista trata da dor no joelho, assim como uma dor abdominal, apendicite ou uma cólica renal será tratada pelo médico especialista.
Mas existe também aquela dor que não é uma dor natural. Como o exemplo de um paciente que viveu um processo de apendicite, foi operado e tudo já deveria estar resolvido em 30 dias ou em três semanas, mas a dor não vai embora. É algo difícil de entender. O que está acontecendo, pois paciente teve uma doença aguda e foi tratada?
É também o caso de uma paciente que faz uma cesariana e passa a reclamar de dor na virilha ou na coxa. O ginecologista ou obstetra não consegue encontrar uma explicação, principalmente quando nada é revelado nos exames solicitados. São realizados ultrassom ou tomografia de abdômen e, mesmo assim, o médico não consegue chegar a uma conclusão.
Muitas vezes, o médico interpreta que se trata de uma dor psicológica e acaba associando a uma depressão pós-parto, pois a paciente está se queixando de uma dor que não parece real. Uma cesariana, de forma alguma, provocaria aquela dor. Todo mundo sai bem desse procedimento e, em uma semana, tira os pontos e a mãe já passa a cuidar, confortavelmente, de seu filho.
Todo médico cuida da dor até que o processo se resolva. Mas quando passa daquilo que é considerado lógico, dentro da sua formação, ele já começa a se interrogar. Por que? O que está acontecendo? É quando ele procura a ajuda de outro profissional. Se é uma dor no joelho, ele procura um ortopedista, por exemplo.
No caso de um ortopedista, é possível que após tratar um paciente de uma torção de pé e ver que esse desinchou e voltou ao normal, observar que ele ainda continua sem conseguir colocar o pé no chão, mesmo não estando quebrado. O que pode estar acontecendo? Por que faz quatro ou seis meses que esse pé não para de doer? Pelo contrário, a cada dia que passa, esse pé está doendo mais do que na ocasião do trauma.
Então percebe-se que essa situação pode ser resultante de uma cesárea, em que foi lesado um nervinho – conhecido como genitofemoral – que resulta em dor na coxa, ou na virilha, ou na perna. Muitas vezes, o obstetra não vai entender esse quadro, pois não é a especialidade dele.
Assim como, muitas vezes, o ortopedista, mesmo após todo o tratamento aplicado no entorse de um tornozelo, depois de 90 dias, verifica que o paciente ainda não consegue andar. Qual a explicação para isso? Não há fratura, mas o pé do paciente começa a se deformar e, depois de quatro ou seis meses, adquire uma cor diferente. Além de inchado, o pé muda de coloração, tem hora que está frio demais e outra que está quente demais. A pessoa não consegue nem cortar as unhas do pé.
Constata-se então que o paciente está desenvolvendo uma doença que vai além da compreensão do ortopedista. Ele está desenvolvendo uma doença que se chama distrofia simpática reflexa, uma dor neuropática que ficou como sequela de uma torção, quando a pessoa simplesmente virou o pé, mas ali começou uma dor que foi se estendendo.
É progressiva e, mesmo após cinco anos, o paciente vai continuar com a mesma dor. É enlouquecedor porque não chegando a um diagnóstico, o médico não tem como tratar essa dor. Aí ele consulta um colega de outra especialidade, pois ele tem a compreensão que fez todo tudo o que era possível dentro da sua área de conhecimento.
De maneira geral, todo médico trata a dor, mas se ele não consegue resolver, chega a hora que precisa ouvir uma segunda opinião. É quando ele encaminha o paciente para um ortopedista, um reumatologista ou um neurologista – áreas especializadas em dor. Geralmente quem se especializa em dor são os anestesistas, neurologistas, neurocirurgiões e reumatologistas.
Os médicos fazem isso em busca de um conhecimento além da sua especialidade, pois a dor do paciente continua. Por que está doendo se o fator desencadeante já foi resolvido? Quer dizer, era uma fratura e essa já se consolidou. Por que dói? Assim como não é possível a dor de uma cesariana continuar, após o bebê já estar com seis meses de vida. Então se procura um especialista que possa ajudar.
A dor que deixa de ser apenas um sintoma e se torna uma doença é muito preocupante. Porque a dor de uma cólica renal é um sintoma de uma cólica, é uma dor bem conhecida e fácil de descrever. Percebe-se que a pessoa está tendo uma cólica renal e que isso é sintoma de apendicite. Mas uma dor que não se resolve em três, seis meses ou um ano já é a doença em si.
E é preocupante porque ela vai tornando a vida da pessoa um caos, de vários pontos de vista, no familiar e também no trabalho. Ela não consegue trabalhar e a parte econômica começa a pesar muito. Iniciam gastos infindáveis porque não se sabe quando aquilo vai terminar, pois cada dia aumenta a quantidade de remédios que ela precisa usar e a dependência a esses remédios. Às vezes, ela precisa usar vários remédios ao mesmo tempo.
Então a dor é muito preocupante quando ela deixa de ser um sintoma e passa a ser a doença em si. É importante descobrir porque o paciente não consegue viver bem e até desenvolve depressão por causa dessa dor. É preciso descobrir a causa dessa dor crônica. Qual é o diagnóstico?
A medida que o médico entende o que está acontecendo, ele poderá ajudar. Não é normal ter dor o tempo todo, 24 horas por dia, principalmente uma dor de um nível muito alto. Costuma-se numerar a dor de zero a dez. Zero significa dor nenhuma e 10, a maior dor que o paciente pode suportar, que o leva até a chorar. Então o médico tem que avaliar essa dor. Ela não pode ser maior que três ou quatro, impedindo a pessoa de trabalhar. Se o paciente é pai de família, ele pode se sentir arruinado profissionalmente.
Além do desconforto insuportável da dor, o paciente ainda sente culpa pelos gastos que surgem e por não poder arcar com as suas responsabilidades também dentro de casa. Ele começa a colocar em dúvida a veracidade daquilo que sente.
Se o paciente sente uma queimação na sola dos pés e não consegue dormir, mas durante o dia se sente bem, começa a ter dúvidas sobre a veracidade de sua dor. Por que ela só aparece à noite?
Às vezes, pode ser é neuropatia diabética alcoólica, ou pode ser efeito de alguma droga que o paciente esteja usando, ou de uma pós quimioterapia – que pode desenvolver esse tipo de queimação, principalmente à noite. Às vezes não orientam o paciente (ou a família) sobre os efeitos dos tratamentos oncológicos, por exemplo.
Então o paciente não entende e pergunta ao médico: “Como pode? Eu venci o câncer, meu tumor foi eliminado e tive alta, por que sinto tanta dor? Minha dor é uma queimação intensa, de nível oito a nove, mas as pessoas não acreditam em mim. Estou indo num psiquiatra, estou tratando, mas não passa a dor.”
Aqui, vale lembrar que existem alguns tratamentos que têm como consequência o desenvolvimento de uma dor, ou que causam algumas sequelas. Tanto a quimio quanto a radioterapia, ou um traumatismo, são casos onde isso pode acontecer. Sendo assim, o paciente precisa estar ciente.
E o médico logo que percebe o que está acontecendo – a maioria das vezes eles sabem – e, caso ele já tenha tratado outro paciente que chegou a esse estado, não atingindo o resultado esperado, convém procurar um especializado em dor.
Uma dor que dura mais que três meses – algumas literaturas mais recentes falam em seis meses – indica que o médico precisa agir. Porque quanto mais tempo levar para resolver esse problema, mais tempo, mais gasto e mais ônus vai ter aquele paciente.
Então, no caso de uma fratura, como o exemplo citado acima, ou de uma cirurgia simples como a de hérnia inguinal, em que o paciente não consegue voltar a trabalhar porque sente muita dor no testículo, choque, queimação e não consegue ficar muito tempo sentado, caracteriza-se uma situação que não é normal.
Sentir dor após uma cirurgia de hérnia inguinal é raríssimo porque 95% delas dão certo e não costumam causar qualquer problema. Não é comum que surja dor persistente após o paciente ser operado de uma hérnia inguinal ou de uma varicocele. Então, se depois de três meses, ainda existe dor que piora a cada dia, há uma degeneração do nervo e essa condição que o paciente está desenvolvendo precisa ser acudida.
Nesses casos, pode acontecer, muitas vezes, uma avaliação inadequada e precoce que leva o paciente acreditar que está com problemas psicológicos ou depressão. Porém, na maioria das vezes, a dor será justificada quando o médico chegar ao diagnóstico correto e iniciar o tratamento adequado para essa dor crônica – que precisa ser investigada porque já que está durando mais de 90 dias.
Qual é o diagnóstico dessa dor? É uma distrofia? Possivelmente, esse paciente está desenvolvendo uma neuropatia?
Pode ocorrer também, por exemplo, após uma cirurgia cardíaca, quando o médico abre o tórax de um paciente para operar o seu coração. Tempos depois, ele volta e diz que não consegue conviver com a dor que se originou após seu tórax ter sido aberto. Sabe-se que, quando essa cirurgia é feita, alguns nervos são seccionados, sofrem uma pulsão, um estiramento. Na maioria das vezes, tudo volta ao normal, mas alguns pacientes desenvolvem uma dor insuportável e a vida deles se estaciona.
Portanto, podemos constatar, nos exemplos aqui citados, que a dor pode deixar de ser um sintoma e se tornar uma doença. E é por isso que um médico especializado em dor precisa ser consultado. Ele deve participar do tratamento, pois tem condições de avaliar, diagnosticar e resolver realidades tão desconfortáveis, que afetam a qualidade de vida do paciente.
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